Quinta-feira, 17.06.10

Quem já não ama mais.

Apagou o cigarro no cinzeiro, apertou a beata com custo, acendeu um fósforo e fumou outro cigarro.

Estávamos num dia escuro de Novembro.

Ele estava sentado na poltrona da sala, uma poltrona bordeux, cor-de-vinho, de aspecto bastante boémio, virado para as estantes cheias de livros, vinis e álbuns de fotos. O único som que se ouvia era o da sua respiração enfumada e o da chuva a bater nos vidros da janela.

Levantou-se, pôs um vinil no gira-discos e deitou-se no chão, sem largar o cigarro, que fumava como se não lhe desse prazer.

Ele não é uma pessoa normal. Não vê televisão, não lê o jornal, bebe chá, em vez de café e é reservado nas palavras que diz e escolhe muito bem as pessoas a quem as diz.

 

No ar começou a ressoar a música do vinil que tinha posto a girar... Kashmir.

Foi na velocidade da sinapse que levou as vibrações ao cérebro, que ele começou a relembrar o passado. Parece que até a nostalgia, aquela brisa agradável de Primavera, chamada nostalgia, lhe doía quando o alcançava.

A partir daí, os pensamentos sobre ela, Ela, cercaram-no e ele viu-se, impotente, e insignificante, a relembrar as suas expressões, os sorrisos nos cantos dos olhos dela, a linha perfeita do seu queixo, o brilhar dos seus dentes e o tacto dos lábios dela, enquanto gemia, sofregamente, por amor, por saudade, por querer morrer.

 

publicado por Gualter Ego às 14:35 | link do post | comentar
Domingo, 24.01.10

Uma história.

Amanheceu.

Já estava eu de pé, a aquecer água para fazer chá para o desjejum, acordaste tu.

Estávamos nos últimos dias de Março, os primeiros da Primavera, e o Sol brilhava nos teus cabelos doirados em todo o seu esplendor, porque, afinal, "ainda tem por onde arder".

Espreguiçaste-te, enrolada aos lençóis brancos que te tapavam o corpo até aos seios, mas descobriste-os e levantaste-te nua, como num acto de feminismo e/ou desinibição.

Olhaste para mim, sorriste e fizeste-te de envergonhada.

Tiraste um vinil da prateleira e puseste-o a girar. Baixaste a agulha e, enquanto começava a ecoar pela casa a voz do Plant, dirigiste-te a mim, nua, imaculada e pálida, como se um anjo fosses.

Beijaste-me os lábios e acariciaste-me a barba por fazer. Depois sussuraste: Amo-te tanto.

 

publicado por Gualter Ego às 19:23 | link do post | comentar | ver comentários (6)
origem

Follow me, e assim...

origem

links

arquivos

Agosto 2014

D
S
T
Q
Q
S
S
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31