Pois é, cá estamos.
Diz a populaça que os homens não se medem aos palmos, mas não dizem a direcção, se não se medem em altura e, por oposição, se podem medir por largura ou vice-versa. Certo é que a minha avó pouco me dizia sobre os lances que costumava dar no verão, de cinco ou mais centímetros para cima, parecia que ganhava figurações de ficar espigado como a raça que me adivinhavam dos lados mais paternais, mas lançava-me as mãos às costas e contava-me os palmos de margem a margem, ombrada a ombrada e dizia, ai mas este moço traz-me um corpanzil danado, e ia-me fazer mais um paposseco com manteiga, que eu não gosto de marmelada.
Portanto, e se já a sabedoria anciã mo previa, amigos, camaradas e concidadãos, agora que essas mãos enrugadas e cheias de trabalho já só têm força para se me pousar nas minhas sem pesar nem áspero, ficai sabendo que ainda mais se me agigantaram as espáduas, falai o que aprouver, tenho as costas largas. E se mesmo acham tais medidas inválidas, anacrónicas como a arroba e o alqueire ou por si só inúteis e subjectivas, olhai que já não sou nem imberbe nem tosco, já sei bem o lugar que tenho de ocupar, chamem-me blasfémio, convencido, comunista, anarquista, filho de um mocho, que seja, tenho as costas largas.
Não é uma carta aberta isto que vos escrevo, embora empregue a pessoa verbal a indicar tal, é mesmo só pelo hábito e preguiça de mudança, e a coloquialidade até é saudável e o que é preciso é saúde e em primeiro está a saúde. Tampouco me estou a blasonar, ter cá andado uma fracção singela do tempo que andarei é sorte, mas já acartei o meu devido braçado de deveres para as luas que vi passar.
Beijos à família.