Sexta-feira, 22.06.12

Pois é, cá estamos.

Diz a populaça que os homens não se medem aos palmos, mas não dizem a direcção, se não se medem em altura e, por oposição, se podem medir por largura ou vice-versa. Certo é que a minha avó pouco me dizia sobre os lances que costumava dar no verão, de cinco ou mais centímetros para cima, parecia que ganhava figurações de ficar espigado como a raça que me adivinhavam dos lados mais paternais, mas lançava-me as mãos às costas e contava-me os palmos de margem a margem, ombrada a ombrada e dizia, ai mas este moço traz-me um corpanzil danado, e ia-me fazer mais um paposseco com manteiga, que eu não gosto de marmelada.
Portanto, e se já a sabedoria anciã mo previa, amigos, camaradas e concidadãos, agora que essas mãos enrugadas e cheias de trabalho já só têm força para se me pousar nas minhas sem pesar nem áspero, ficai sabendo que ainda mais se me agigantaram as espáduas, falai o que aprouver, tenho as costas largas. E se mesmo acham tais medidas inválidas, anacrónicas como a arroba e o alqueire ou por si só inúteis e subjectivas, olhai que já não sou nem imberbe nem tosco, já sei bem o lugar que tenho de ocupar, chamem-me blasfémio, convencido, comunista, anarquista, filho de um mocho, que seja, tenho as costas largas.
Não é uma carta aberta isto que vos escrevo, embora empregue a pessoa verbal a indicar tal, é mesmo só pelo hábito e preguiça de mudança, e a coloquialidade até é saudável e o que é preciso é saúde e em primeiro está a saúde. Tampouco me estou a blasonar, ter cá andado uma fracção singela do tempo que andarei é sorte, mas já acartei o meu devido braçado de deveres para as luas que vi passar.
Beijos à família.

publicado por Gualter Ego às 13:05 | link do post | comentar
Quinta-feira, 07.06.12

...

Li, num periódico de beatas,
Que é do estrume mais putrefacto
Que nasce a mais bela flor.
E querem convencer-me disso;
Que é do nojo que nasce toda a beleza;
Que mais bonito é aquele raio de sol
Que resvala na merda;
Pois bem, mas não sou estrume nem lírio,
Antes aquela mosca que vedes, incerta e tonta,
Comendo de onde sabeis, com o regalo de sempre,
Com a resignação genética dos pobres,
Quedando-se, tosca e repastada,
À mercê de um estalo certeiro.

Dobra a meia-noite.

publicado por Gualter Ego às 15:18 | link do post | comentar
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