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No outro dia passei pela praia, cheia de gente, cheia de pessoas, cheia de barulho e cor e carnes à mostra e só pensava em como somos tão repetitivos e previsíveis.
No outro dia passei pela praia, cheia de gente, cheia de pessoas, cheia de barulho e cor e carnes à mostra e só pensava em como somos tão repetitivos e previsíveis.
Há uns anos
Aprendi na escola,
Não sei explicar,
Não cheguei a me importar,
Que a energia,
Quando transmitida,
Deixava-se escapar,
Um bocadinho para aqui,
Outro para ali,
Já disse que não me lembro bem,
Mas isso acontece, também,
Quando me apetece passar
Uma coisa qualquer,
Um devaneio,
Um verso, dois,
Uma história, uma lamúria,
Um conto, um reconto,
Nem que seja para acrescentar um ponto,
Para o papel:
Há sempre uma palavra que escapa,
Na caótica aleatoriedade dos pensamentos.
Um conceito, um laivo de loucura que,
Se não é entornado por hora ao papel
Se desvanece na metafísica das coisas escritas,
Como vapor.
E há sempre algo que escapa,
É inevitável,
Alguma coisa mínima que fica por falar,
Seja por pieguice ou exigência de quem escreve,
Seja o etanol que prega as suas partidas.
Estou conformado e resignado, desta forma,
A estas lides e a estes destinos:
Nunca sentir o dever cumprido,
Andar sempre a sentir-me roído
Por não conseguir vomitar tudo o que se passa lá/cá dentro.
E fico com um comichão dúbio dentro do crânio,
Como se fosse um calo, ou uma verruga,
Que incomoda e que só desaparece se deixarmos de o importunar.
Que faço, então?
Deito-me, sozinho, na cama,
E destilo.
Há-de sair mais suor que arte,
Indubitável verdade,
Mas alguma coisa há-de sair,
Nem que seja mais do mesmo.
Hei-de derreter,
E dar de mim, todo,
Absoluto,
A mim próprio.
Um dia...
Um dia as peças caem todas no sítio,
E eu vou ficar aborrecido.
No fundo (no fundo),
Sou um animal que nunca está satisfeito,
Nem com a chaga,
Nem com a cura.