Gilinho.
O vinho tinha saído tão bem, era o motivo de orgulho da casa e da adega e objecto de elogios de tudo o que era homem bom de bico e sabedor destas coisas dos vinhos lá da terra, e tinha tanta alma que ao quarto copito já o pequeno Virgílio não tinha forças para agarrar na enchada e deixava os pés enterrarem-se na terra fofa e cavada, cambaleando para ir buscar mais uma pinguinha de vinho ao pipo da adega. Fez a viagem duas vezes, feito moço de recados, quatro quilómetros ida e vinda, à ida a descer, ia fresco, com a ajuda de todos os santinhos, e à vinda a subir, ao lado de um santo coxo que lhe ia empurrando nas horas de maior cansaço, que estas ladeiras, terra batida e vincada das rodas das carroças, com uns pedregulhos soltos e afiados aqui e ali, não são fáceis de subir.
Vai de provar a aguardente, ah, não sei como é que os homens bebem isto, pensou o pequeno Virgílio, apenas nove anitos, mas não se fez moço, encheu o peito de ar, expirou e bebeu o terceiro, ou quarto?, copo de aguardente. O que lhe vale é os copos lhe serem pequenos e, afinal, isso não lhe vale de nada. Era objecto de riso dos homens, tropeliando e tropeçando, tontinho, caindo e esborregando-se, escorregando, sujando-se, na terra. Vestia-se de poeira.
Tal era a bebedeira que ficou a dormir no palheiro, de sábado para domingo. Quando acordou, na manhã seguinte, entre os fardos de palha para os burros, deu-lhe a fome e a preocupação e foi para casa. Lavou-se e levou nas orelhas da mãe, vestiu o fato de domingo, mas não comeu. Foi à missa, mais a mãe e a irmãzinha.
Também, assim, ficou um bocadinho mais santo, por não te comido nada antes da eucaristia, porque tomou a hóstia em jejum.