Domingo, 05.12.10

03:46

Boa noite, amável cliché.

publicado por Gualter Ego às 03:47 | link do post | comentar | ver comentários (1)

Olá.

Olá?

És tu que vens comigo neste comboio?

Vamos, então, de mão dada.

 

Nos bolsos, quase nada.

Umas moedas trocadas,

E o tostão furado da fome que tenho.

 

Vamos sem sequer chegar a partir,

Porque lá chegar não implica ir.

 

Esse Jorge de quem falas,

Tinha mãos de pianista?

Acho que sei quem ele é,

Tal como eu é masoquista

E mais quer ser desenraizado,

Que ir embora e ser consumado.

publicado por Gualter Ego às 03:42 | link do post | comentar

Raison d'être.

A cobra do desejo e do pecado, aquela do Génesis, está a morder o pássaro da razão.

E a razão nem sequer esperneia.
Sabes porquê?
Porque desejo todas as tuas células, vivas ou mortas, e o fogo do teu cabelo; porque é o meu corpo que te quer, os meus dedos, os meus olhos, ouvir-te, os meus ouvidos, cheirar-te por dentro, o meu olfacto.

publicado por Gualter Ego às 03:40 | link do post | comentar | ver comentários (2)

O meu coração há-de pesar bastante na balança de Anúbis.

Sou embriagada alma em busca de embriagada inspiração. Não a aches menos genuína por isso, a inspiração, que a verdade é minha tanto quanto eu quero que ela seja verdade.

Ilusão? Talvez não. Talvez seja o desejo que se esconde. Ou a chuva que cai e a carne que quer. Não, não é ilusão; é o que a carne quer. (E o que a carne quer não se discute.) E a carne vai comandando a alma, pegando o leme com mãos firmes e calejadas, porque tudo se resume a frágeis palavras que a razão enfraquece.

Tudo é mais genuíno, e esta lágrima é por mim, que teimo em escrever o que acho ser mais feio embora puro, não querendo sublinhar o ego, que, chuvoso e embriagado, que embriagado apenas se quer escrever, é nulo e morto, por ser vivo no nada.

Creio, pois, que o fim será quando os vermes decidirem comer a minha carne e limpar os meus ossos; à merda voltaremos, porque merda, pensante e andante, nós somos. Mortos-vivos, vivos-mortos, devorados por vermes metafóricos, até que baixaremos à terra, a sete palmos do cimo, nossos imundos corpos e os vermes passarão a ser verdadeiros e hão-de te morder sem te doer.

Sou já morto, mas não o sei e ninguém me perguntou "rico menino, quereis nascer?"; só morro se alguém disser: merda, ela ainda agora estava vivo e respirava, e agora está rijo, pálido e parece que já não respira.

Encontro-me, porém, conformado (talvez consumado), porque o além a que aspiro, e todo o além que encontro, encontro-o nas curvas de uma mulher.

Mais vale viver, numa mulher e no seu corpo, sem o saber, se morrer é luto e memória e nada mais.

Morrer é luto e ser velado, porque em alguém fomos vivendo; é uma certidão de óbito. E se ninguém me vir morrer, se ninguém se vestir de preto ou se lembrar que vivi, morrerei? Creio que não, pois nem para a mãe que me pariu cessei de viver.

Só morro em quem me ama e em quem me quer, porque tais gentes sabem tudo o que não sou. Ouviram, já, a minha voz e sentiram, que não fosse de gracejo ou de puro desejo, o calor da minha pele.

Que sou eu? Eu, menos que pensamento, memória, verso e rima? Vã realidade carnal que não ultrapassa as metafóricas levezas do ser. Ou não tão vã assim, essa realidade carnal, enquanto viver para a mulher, o seu olhar e os seus cabelos, enquanto isso me bastar.

Deus não estará morto, como matéria que se faz ver. E se Deus for o Mal e a Morte, exijo que seja o coveiro o primeiro a morrer.

 

Julgo que na morte não chamarei por Ti, nem por teu filho. Se o fizer, tanto melhor. Poeta que seja descrente é poeta falsificado.

 

publicado por Gualter Ego às 02:30 | link do post | comentar

Língua presa,

Se houver retrato teu,

Que faça justiça às gotas de tinta

Com que foi pintado o teu corpo,

Terei sido eu o artista,

Que por detrás do pincel,

Terá, na tela, desenhado,

Tanta beleza,

Tanta pureza,

Tanto amor, na certeza,

De que amar é mais do que o amor nos diz,

É estar cego e pintar todas as curvas,

Daquilo que dizes que és, não o sendo,

Da mesma maneira, em ti morrendo,

Todo o fogo que,

Em ti gemendo,

Vai queimando a lenha que eu sou?

 

O cigarro que te fumou,

O ventou que te levou,

Dente-de-leão, túlipa desencarnada,

Vai brincando com a fotografia

Que o meu amor tirou.

 

Não há nada como um gole de porto,

Para acabar com a frieza,

Da língua presa,

Que por ti teima em chamar.

publicado por Gualter Ego às 01:56 | link do post | comentar | ver comentários (3)

Por mim que viva, em mim tens que ser.

És tu que fazes a chuva cair.

És viciante e destrutiva.

És, apenas por ser,

Estás viva.

E que melhor razão para ser,

Do que ser?

publicado por Gualter Ego às 01:50 | link do post | comentar

Formigas.

Lá do alto, se voamos, parecemos formigas.

Cá em baixo, lutamos por não parecer formigas. Ou então esbracejamos por o ser, sem saber no que nos iremos tornar.

publicado por Gualter Ego às 01:42 | link do post | comentar | ver comentários (1)

Reticências.

Sou o rival mais fraco de todos os homens que querem tocar a tua pele de porcelana.

Primeiro as pálpebras, depois a seda dos teus lábios.

Agora a carne onde penduras o ouro frio e a prata sem valor.

Desço até onde permitires,

Até onde me ofereceres tanto e tal calor.

publicado por Gualter Ego às 01:36 | link do post | comentar | ver comentários (1)

têmpora.

publicado por Gualter Ego às 01:32 | link do post | comentar | ver comentários (1)

Alice, no país do faz-de-conta.

Alice,

Sei que talvez adormeceste.

Mas esse país em que,

Por momentos que seja,

Tu viveste,

É tudo fruto da droga,

Que na mesa de cabeceira dos teus pais,

Tu roubaste.

 

E nem achaste,

Que tal furto seria imoral,

Nem que a droga te traria sonhos tal:

Um coelho que abusa do café

E uma lagarta que vai fumando o ópio

Das tuas alucinações,

Alegres ilusões.

Porque és loira,

Vestes vestidos de renda

E uma fita no cabelo.


Nunca saberás o que é querer um homem

E, por fim, por seres tão pequena,

Querê-lo,

Amá-lo

E fodê-lo.

publicado por Gualter Ego às 01:18 | link do post | comentar | ver comentários (1)

Um, dois.

Demorou o que tinha a demorar,
Disse pouco do que tinha para te dizer,
E para mais não querer perdoar,
Vou-te dizer que não quero mais morrer.

 

Desculpa-me tal desnível:

Sou uma besta sensível.

publicado por Gualter Ego às 01:13 | link do post | comentar

A morte. (Ou "A Morte")

O seu olhar convenceu-a. A fogosidade dos olhos dele, Morte, nome pelo qual respondia, apenas arranjava rival nos seus cabelos ruivos, labaredas em cascata pelas suas costas.

Ficaram bastante tempo olhando-se nos olhos, como tentando decifrar o que as palavras tentavam dizer através do olhar. "Je t'aime, je t'aime pas! I love you, I love you not!", como se o amor importasse ao que o desejo concerne. Mas a corte continuava, e a Morte, que lhe passava a mão pelos seios, fazia desaparecer todo o pudor da carne humana, como um espelho que se parte, e o nu passa a ser vestido, porque a carne é a nossa genuína roupa.

Beijou-lhe o frio dos ossos e disse "Amo-te". Morreu sorrindo, porque se entregou ao quente amor da cova que a entregava às larvas que lhe comerão a carne e lhe limparão os ossos. Morreu amando, porque a Morte a seduziu no quente amor do vinho e da chuva.

publicado por Gualter Ego às 01:04 | link do post | comentar | ver comentários (1)

É dia de chuva e noite de dilúvio.

Todo eu sou tacto,

Porque todo o eu te quer tocar.

Mas toda a distância que nos separa

É boa rima para eu cantar.

 

Por que é que o destino
Me faz te amar,
Se longe e intocável,
Mais longe que a mão que te quer beijar
Eu te posso tocar?

 

O feitiço do fumo
Das curvas, da carne,
De tudo o que te faz arder
Em meu humilde e quase puro pensamento
É, em mim,
Mais que desejo carnal,
Genuíno desalento.

Desculpa,
É o vinho que fala por mim.
Mas, pensa, pensa bem,
Considera-te, esta noite,
Mais que corpo amado,
Mim, eu, moi, je,
Embriagado, mas sincero.
Amo o que ao olhar fascina,
Não o que quero.

 

Demoro-me em juras de amor,
Como se para alguma coisa fossem de real valor.

De ti, meu amor,

Quero todo o silêncio, toda a carne,
Todo o amor.

publicado por Gualter Ego às 00:54 | link do post | comentar
origem

Follow me, e assim...

origem

links

arquivos

Dezembro 2010

D
S
T
Q
Q
S
S
1
2
3
4
5
6
7
8
9
11
13
14
15
16
17
18
20
24
25
28
29