Podia escrever-te uma carta,
Mas tenho as mãos demasiado frias:
Pudesse um Lá sustenido pintar o teu corpo
E a beleza com que sorrias.
Para sempre, dentro e fora do meu peito,
Cabelos teus poisados em lado nenhum.
Uma flor, um amor-perfeito;
Um fado cantando um corpo cru
Os meus pés não medem quanto falta até chegar,
Porque o que lhes dá paz é caminhar.
Nenhum lugar é minha cama,
Porque lugar nenhum me pode bastar
Amansaste a fera que em mim vivia
Com um olhar que ninguém via.
Aqueceste-me o coração, pedra dura e fria,
Acendeste de novo o fogo que em mim morria.
Ao teu lado, o pecado é sagrado.
Heresia é não possuir cada pedaço de ti.
Lamber o teu calor, com divino agrado
Fazer-te, hoje, de novo, nascer em mim.
Fim.
Os lençóis, onde me suspiras,
Manchados de sangue; contraste,
O encarnado e o branco, um anjo,
O fogo de quem amaste.
É meia-noite cinquenta e dois.
Perdão; cinquenta e três.
Está a chover.
Achei que gostasses de saber.