Egoísmo.
É o nosso egoísmo que nos torna humanos.
No amor, no sexo, nas coisas, que no fundo são só coisas, o egoísmo transborda, o egoísmo consome-te.
É o nosso egoísmo que nos torna humanos.
No amor, no sexo, nas coisas, que no fundo são só coisas, o egoísmo transborda, o egoísmo consome-te.
Julgas a bondade aborrecida,
A cortesia, uma dama envelhecida.
Falam-te de amor, engoles em seco,
Inspiras-te na carne, escreves um soneto.
Escreves, das mulheres,
As curvas, em que nunca te perdeste
Do sangue quente, e do bafo da morte,
Os arrepios que nunca sentiste.
És uma mentira,
Espelhada no teu inverso.
Lembras-te de quando o teu, nosso relógio era o Sol, que deslizava, apressado, rompendo o céu azul?
Nada nos atormentava, nem sequer as feridas abertas, que lambíamos e esfregávamos, para estancar o sangue que nos incomodava, no jogo da bola. Corríamos pelo mato, de chinelos,descalços de quando em vez, e sorríamos. Juro-te: desde o último dia em que sorrimos juntos, depois do Sol já se ter posto, enquanto a minha mãe chamava por mim, e a minha barriga pelo jantar, nunca mais sorri com a mesma franqueza.
Tenho saudades da terra, da lama, das poças de água.
Saudades do fins-de-tarde de Outono, com cheiro a Primavera.
Tenho saudades de não ter saudades e de ser ninguém, um puto, que sorria.
Por que é que as pessoas se escondem atrás da apatia? Por que é que as pessoas se inclinam perante os dogmas e cedem ao senso comum?
Não é preciso ter medo do desconhecido: é necessário ceder, entregar o corpo inteiro, aos desejos mórbidos, em nada defeituosos, em tudo virtuosos, sensuais e perigosos, sem pensar duas vezes.
Tornei-te minha, lentamente.
Por entre o fumo das nossas noites, por entre os sons das nossas músicas, seduzi tudo o que tu és e transformei-te em algo mais, à luz tépida do sol de Outono, lambida pelo vento forte que te faz dançar os cabelos.
Lamento imenso.