Morrer? Ainda não.
Quinze de Março de mil novecentos e noventa e cinco.
A carne tornou-se-me aborrecida, por baixo das tuas vestes, ao ponto de não te querer mais tocar. O mal do meu mundo sou eu próprio, que envenenei a minha alma com metáforas, rimas e palavras caras. Fui feito numa sequência de passos, agoniante e sádica coincidência, que me levou a este feliz triste fim, no qual me deito esta noite. Estou sozinho, a carne é carne, a chuva ainda cai, o sol ainda nasce, mesmo que não o vejas, e as folhas continuam a cair, no fim de cada Setembro.
Dentro de mim não há ódio e, o amor, espalhei-o todo por aí, nos cabelos de alguém, numa esquina qualquer, em verso e fiquei sem nenhum para mim. A razão é essa: acabou-se a alma e o coração que escreviam o amor. O corpo, e as suas tentações, não são tudo; nem sequer chega o corpo, por si só, para encher um verso de brilho. Curiosidade, cobardia, vontade, o que for, morro nas minhas palavras sóbrias e despertas.
Com tanto amor à vida como tinha quando nasci, aqui me deixo a morrer, porque é de meu direito querer acabar com o sofrimento que escreveu por mim.
Puta vida, perversas palavras, que me deixaram a desejar nada mais que a morte.
O medo não mora cá hoje, ó Todo-Poderoso. Enfia um dos teus dedos omnipresentes no cano desta arma, se aqui me queres!
Oiço vozes, ao fundo, e chuva, lá fora.
Até logo.
Last words are for fools who haven't said enough.
- Karl Marx