Prazer.
Enquanto caminha pelos cacos do vidro partido da janela, bebe mais um gole de chá de lúcia-lima, sorri e reconhece as pegadas sangrentas.
A dor dá-lhe tesão e já não consegue chorar.
Enquanto caminha pelos cacos do vidro partido da janela, bebe mais um gole de chá de lúcia-lima, sorri e reconhece as pegadas sangrentas.
A dor dá-lhe tesão e já não consegue chorar.
Às nossa inúteis lamúrias,
Bebo.
Bebo o trago amargo e ardente,
Da água-ardente;
Sonho o meu sonho demente,
Sonho por ti: doente.
Não posso cantar o teu nome,
Mas quando o oiço, ele beija-me.
Como se fosse matéria
E tivesse lábios.
( Disto, não escrevem nem os mais sábios )
"... a boca, tardando-lhe o beijo, mordia..."
O meu fado é este:
Não haver palavras suficientes para mim.
Para mim e para falar dos outros, assim,
Em verso.
Não sei como há-de alguém
Gostar daquilo que lhes mostro que sou
Mãos frias e coração frio.
O ego, que o elogio alargou.
O sono chegou
E o teu beijo teima em tardar.
Uma nova chama se acendeu,
Sofro e deixo-me navegar.
Não vou mais "procurar quem espero".
-Queres mesmo fazer isto? - perguntou-lhe ele, ao ouvido, enquanto lhe cheirava os cabelos que lhe acariciavam a cara, levemente.
Ela anuiu com a cabeça.
Beijou-lhe o pescoço, atrás da orelha esquerda, passou-lhe as mãos ao longo das curvas e começou a despi-la.
Não havia a sensualidade dos filmes de amor e suspense, nem sequer havia a experiência rotineira, mas havia algo que os acalmava, como se tivessem bebido, de um trago, um copo de whisky, para acalmar os nervos.
Tornaram-se um: ela gemeu e encolheu o corpo todo de uma vez, como se um calafrio, meio dor, meio prazer, lhe tivesse corrido o corpo todo, num formigueiro delicioso.
Ele sentia-se extraordinariamente bem. Bem consigo próprio, com o mundo, com aquela transparência de sentimentos e sensações, com a tamanha delicadeza do corpo dela, aquela pureza que ali estava a presenciar em primeira mão.
Aquele corpo começava nele e acabava nela.
Depois, ela adormeceu-lhe no peito, aí sim, como nos filmes.
Num acto de desespero, disse, em voz alta, para ele próprio:
-Os meus sonhos nunca se vão realizar.