Atrás da paisagem.
No alto de um monte, olhando outros mesmos:
- Os montes estão a mexer-se. Vamos voar?
- Ah, rapaz da cidade...
- Vais dizer que não é bonito, João?
- Bonito, é, mas é o meu horizonte todos os dias.
- Mas isto é único.
- Campo é campo, montes são montes.
- Há campos e campos, montes e montes.
- São altos e baixos e pinheiros e pedras. Não há mais que saber, André.
- Há muito mais entre tudo isso.
- Porque vens lá da cidade e não estás farto das entre-linhas do musgo molhado.
- Mas há sempre tanto que não se vê...
- Está visto, acredita.
- Não posso. Viste todos os que lá habitam.
- Já lá habitei eu, como vim ao mundo, mais o ecoar das cordas.
- Mas viste este mundo e o outro?
- Falta-me a grama...
- A grama, João?
- A erva.
- Ah. Então, aí, verás por que os montes se mexem.
- E, talvez, também voe. Ahah!
- Não tenhas dúvidas, irmão. Vais descobrir muito mais entre a luz do sol e a sombra das árvores.
- Sim, a tão prometida profundidade filosófica. A transcendência que tanto almejo... Talvez a atinja...
- Um estado de consciência e precepção, diferente daquele a que estás habituado.
- Um mundo melhor, talvez.
- Talvez, irmão.