Temo que seja, em toda a minha humilde e, até agora, insignificante existência, um ser humano deveras frio e sem coração.
(Metaforicamente, é claro, que os cobertores da minha cama cumprem bem o dever que lhes compete, que é o de me aquecer nas noites frias e o coração presumo eu que lá esteja, pois, desde que me conheço que houve sempre um batuque ritmado, e ainda bem, no lado lado esquerdo do meu peito.)
Não entendo o choro, ou sequer a dor do luto, nem o mais profundo Amo-te e tudo o que acarreta. Ou, pelo menos, devia.
Entendo, pois, o desejo, mas isso, penso eu, não são assuntos do coração, vulgo, sentimentais, pois, pelo que eu oiço nas notícias, o desejo pode levar a que o coração bata tanto que resolve parar.
O desejo não é mais que o instinto; o instinto de ter e querer sempre mais e melhor.
Agora vou ver se durmo, boa noite.
João, uma e dezoito da manhã, oito de Fevereiro de dois mil e dez.