-Eu sou egoísta: tu tens problemas de verdade. O meu maior problema é a perfeição que se perde na sinapse que vai do cérebro aos dedos que escrevem. Aliás, nem deveria escrever, que a perfeição não se começa, porque não se acaba.
Mas caio sempre no erro de escrever sobre não conseguir escrever e é um paradoxo que dá cabo de mim. E a minha alegria depender de apenas um ponto positivo e esse ponto positivo ser uma mulher, não abona nada. Sou um idiota, Rita. Por que é que não me fizeram ignorante e feliz?
-Porque se fosses, o (teu) mundo não tinha tanta graça.
Eu sei que ainda vai editar muitos livros, pintar muitos quadros, ter muitas bandas e vais morrer feliz e ignorante porque nessa altura a marijuana que consumiste ao longo da tua vida não te dá tréguas.
-E se eu conseguir fazer isso tudo sem marijuana?
-Vais morrer simplesmente?
-Aí, matar-me-ei.
-Oh. Não quero que chegue aos meus ouvidos que te suicidaste. Ao menos morre como um homem, caralho!
-Hei-de morrer cedo.
-Dúvido. Não és o Kurt Cobain..