Miopia.
A miopia tolda-me o ver,
O sangue doente tolda-me o olhar,
E os olhos nus toldam o desejo,
Num soslaio, num segundo, num ensejo.
Tu (sim!) és a única ideia daquilo que te vês,
E eu, porém, olho aos outros,
Tentando roubar as vontades e as ideias
Sugando-lhes as emoções, o ar e a tez.
Sou Deus, moldo-vos como barro,
Ponho-vos palavras na boca,
Palavras, tais, que nunca dessas bocas imundas sairiam,
Faço-vos objecto, inspiração, eternidade louca.
E sou o Diabo, poeta,
E quando o Diabo puxa os fios,
Na hora que ele por bem achar,
O mundo todo tem de dançar.