2+2=5

Há duas formas de negar a crença num sujeito transcendente, intocável, dito omnipotente, omnisciente e sempre e para bom, a quem os mais distraídos chamam Deus: "Eu, que aqui estou sob juramento de dizer a verdade, apenas a verdade e só a verdade, não creio em Deus" e "Eu, que aqui estou sob juramento de dizer a verdade, apenas a verdade e só a verdade, não creio na existência de Deus".

Ou seja, aquele não acredita em Deus e este não acredita na existência de Deus.

Qual é a diferença? Eu explico.

 

Dizer que Deus não existe é uma negação de uma redundância esquisita. "Não acredito em croissants!", poderia eu dizer, mesmo estando com um na mão. Ou seja, dizer que Deus, como a entidade que é, não existe, implica um estado anterior de estar lá, de existência hipotética, seja da crença ou da projecção Dele, para que haja um posterior e deslavada, arrogante afirmação: EU NÃO CREIO EM DEUS.

 

Se podes, por exemplo, dizer "Hoje não está a chover", é porque num dos outros dias da tua vida acordaste e o dia estava chuvoso.

 

Negar a tua crença Nele, não nega a sua existência. Se negas a sua (Sua) existência, sentes saudades dele, salvo seja, sentes a sua falta: afirmas as sua ausência.

Ora, nada pode faltar a algo que nunca foi - estás a contradizer-te às escuras. (E, na crença, ele vem do nada.)

 

Basicamente, amigo ateu, negativo e pessimista, ao dizeres "Eu não creio em Deus", não estás a dizer que ele não existe, estás a dizer que Ele lá está, a fazer a vida dele, terramoto aqui, incêndio ali, peste negra aqui, pé partido acolá, só tu é que não queres nada com ele, cortraste-lhe todas as relações. É um pouco como Ele dizer que não acredita em ti.

 

Ora, não crer na existência de Deus, então, é uma crença absoluta, nula e fatalística. Não existe. Isto que tu me disseste que exisitia, afinal não existe.

 

Por agnóstico posso ser tomado como preguiçoso, procrastinador, anarquista, niilista, ..., porém, julgo que será a transposição religiosa da frase-puta da Filosofia: só sei que nada sei. Aqui, por não sermos capazes de aguentar com o que há por saber, ou por querermos aniquilar o saber incerto das coisas que estão para além do entendimento humano e da carne, mesmo que a carne seja teimosa em se achar capaz de ir buscar à metafísica, coisas que não lembram nem ao bafo da vaca que aquecia o Jesus Menino.

Não é fugir às perguntas, sem agnóstico. É admitir que um ser humano é um ser perpetuamente ingénuo e desprovido de conhecimento.

Radico a minha ignorância ao abster-me da resposta fatalista, seja ela sim, ou não, e inclino-me à minha própria ignorância.

Tenho coisas melhores para fazer que andar à caça de gambozinos.

2+2=5, até que a mentira, que nem chega a ser uma mentira, se torna verdade de tanta vez que é proferida.

Não sinto a ausência de Deus, por isso não me apoquenta nem me tira o sono se ele existe ou não. Transcende-me, nunca o vou saber.

Não lhe sinto a sua falta, nem a falta que ele não faz.

Deus, sou eu.

publicado por Gualter Ego às 00:04 | link do post | comentar