Um pastel de nada.
A Morte saiu à rua num dia assim;
E eu estou sentado à mesa.
Correu pelas ruas à minha procura
E não me achou;
E eu estou sentado à mesa.
Bateu-me à porta, a Morte,
Bateu-me à porta
E eu dei uma trinca derradeira no pastel de nada
E empurrei-o pelo goto com um gole de café
E levantei-me.
Abri-lhe a porta e disse,
- Estás atrasada.
E ela, cansada,
Sentou-se comigo à mesa.
Falámos da política,
E do futebol.
Falámos do tempo
E das colheitas.
Dos nados
E das maleitas.
E, por fim,
A Morte se confessou:
- Tenho saudades tuas.
A Morte saiu à rua num dia assim.