João.
J'existe, c'est tout, et je trouve cela écoeurant.
- Jean-Paul Sartre
Sou um sujeito sério,
Sem marotice nem lério.
Tenho um nome e tenho casa,
Canto e voo, sem voz nem asa.
Farewell,
Ó mundo cruel.
Au revoir,
A toda a chuva que virá.
Alors,
Deixemo-nos destas coisas,
E vai buscar dois copos,
Que o Porto é bom, é doce, velho
E sabe a cortiça.
Rápido, e curto no copo,
Que amanhã cedo há missa.
De boas carnes e fortes famílias,
De olhos Biscaia, de nariz Teixeira,
De alma no pinhal e cansaço na eira,
Trouxe-me ao mundo, minha mãe,
Num dia que calendário algum possa jurar que tem.
Só deus sabe a cor de meus olhos,
E só ele sabe com os quais eu o olho.
Persigno-me de medo e de complacência,
Que eu sou do saber e da ciência.
Tenhos as mãos grandes, e os pés também.
Chego ao quinto traste com o mindinho,
E calço o quarenta e cinco.
Cresceu-me o corpo sozinho,
Deixou-se ficar o menino.
Não me perco em mapas,
Perco-me em cheiros,
E sempre me perdi em cheiros,
E elas sempre cheiraram tão bem.
Aqui estou, teu vassalo, ó existir,
Abençoa-me o estar e o porvir,
E molha-me com a água benta de fazer,
Que por mais que queira, não possa eu dizer,
Que, se não escrevi, continuo a viver.
João é só um nome,
É o que me deram,
Não será o nome que tenho,
Porém alguém me chama,
É a cama,
E chegámos ao fim do poema.