Isto talvez seja uma canção.
Acima de mim,
Há sobretudo rabiscos,
Umas poucas substâncias enganosas,
A lua, as estrelas o frio da noite escura.
Procura nela, algo que cheire a ti,
Corro os meus riscos,
Bebo pingas manhosas,
E tudo o que vejo perdura.
Mas, enfim, eu vou dormir,
Tentar esquecer, tentar não ir,
Em teus paleios, meus receios,
Se estou tão bem assim, e tu és mudança,
Não sei se é deixar estar ou é pujança.
Eu só sei,
Oh, que tudo sei,
Mesmo tudo o que cantei,
Foram réstias de achar,
Que dar a mão era amar,
E cada beijo era consumar,
Amor eterno,
Promessas em papel,
Saliva, suor e mel,
E agora me arrependo,
Se não te amei sendo,
Sendo eu quem não sabe se é,
Então, vou a pé,
P'ra casa, vou dormir,
Pensar melhor,
Agarrar-me à almofada,
Curar a ressaca arrastada,
E gritar, sem se ouvir,
Que estou a cair,
E não quero olhar para baixo.
Ouve o que eu tenho a dizer,
Nunca quis fazer-te sofrer,
Mas tenho um ardor na garganta,
E bem te digo: não adianta.
Deixa-me fugir;
A meu ver,
Cheiras a tudo o que eu quero que cheires,
Sabes a tudo o que eu quero que saibas,
Dizes tudo o que eu quero que digas,
E as palavras são minhas amigas,
Fica por cá esta noite,
Vamos só falar,
Só preciso de falar,
E agora tenho sono,
Poisa-te no meu peito,
Adormecer em meu respeito,
Tudo o que foi o dia que passou,
Fui eu, que não sei, nem sei se sou.