Jejum.
Ah, coito, coito, morte de tão vida (...).
- Drummond de Andrade
O nevoeiro e o peso da pálpebras,
Não despem alegres túnicas de desejo,
Não deixam a fome findar no beijo,
Jejum de tudo; jejum de ti.
Boca imunda, olhos ingratos,
Abaixo de ti, apenas ratos,
Dúbia presença em cores de traição,
Morra quem mais me roube o coração.
Tenro lume, língua de fogo,
Cabelo a flutuar no semblante,
Olhar trocado, enganado, arrogante,
És tu quem me fuma a razão.
Agreste vento lesto e invernal,
Doce veneno, que amo e me faz mal.
Rompe-m'o frio, aquece a garganta,
Que, esta noite,
Quem já bebei a mais é quem canta.