Língua presa,
Se houver retrato teu,
Que faça justiça às gotas de tinta
Com que foi pintado o teu corpo,
Terei sido eu o artista,
Que por detrás do pincel,
Terá, na tela, desenhado,
Tanta beleza,
Tanta pureza,
Tanto amor, na certeza,
De que amar é mais do que o amor nos diz,
É estar cego e pintar todas as curvas,
Daquilo que dizes que és, não o sendo,
Da mesma maneira, em ti morrendo,
Todo o fogo que,
Em ti gemendo,
Vai queimando a lenha que eu sou?
O cigarro que te fumou,
O ventou que te levou,
Dente-de-leão, túlipa desencarnada,
Vai brincando com a fotografia
Que o meu amor tirou.
Não há nada como um gole de porto,
Para acabar com a frieza,
Da língua presa,
Que por ti teima em chamar.