Figura grotesca.
Figura grotesca, nariz grande, dentes tortos, amarelos e olheiras fundas, sentado numa cadeira de madeira carunchosa, num quarto a tresandar a merda.
Unhas por cortar, corpo por aliviar, alma por lavar: lambe os lábios num esgar nervoso, quase furioso.
Que pode ele mais fazer, neste cenário dantesco e rançoso, que acender um cigarro, segurá-lo entre dois dedos escanzelados e trémulos e chupá-lo sofregamente até ao fim?
Custa-lhe estar com os olhos abertos, custa-lhe respirar; dói-lhe o corpo, ao pensar.
E ao pensar não pensa em concreto, pensa no branco vazio, na querida escuridão que transbordaria e fugiria do quarto, se abrisse uma janela, ou uma porta.
Falta-lhe algo, sempre lhe faltou algo.
De tanto pensar em escuros brancos vazios cheios de nada em concreto, dá por si já a fumar o filtro do cigarro.
Conformado que é, conformado que está, arrasta-se até à cama, deita-se de barriga para cima e adormece, a sorrir às traças e às melgas que atacam, incessantemente o candeeiro do tecto.
Que ignorância saborosa, a destes pequenos insectos.