Anti-herói.

Terrível fado seria o do pássaro, se, em vez de voar, pensasse; terrível fado o nosso que existimos pensando, amaldiçoando o existir.

Dentro de mim há medo, onde devia haver sabedoria, existe o nada, dentro do tudo, para tudo se desvanecer no carnal desejo, no toque, no teu corpo. Por estar vivo, e bem vivo, e não estar morto nem a morrer, para o inferno com o mundo e a humanidade, que se foda a realidade ou se a realidade, realidade o é, que quando eu acordo, acordo carrancudo e desesperançado. Não quero saber se o pensamento nos prega partidas, quando me já é difícil domar o temperamento abestado e o romantismo fatalista que teima em me sair pelos dedos.

Não me consigo disciplinar. Penso, pensando em pensamentos aos quais o mundo sorriria, irónico e descrente, àquilo que me tornei. Sou uma marioneta dos tempos, nascido no mundo errado, objecto de uma qualquer aplicação da terceira lei de Newton.

O mundo? para o inferno com o mundo! A humanidade? Para o inferno com a humanidade! Abre-me o peito e encontras um abismo, porque guardo todos os pecados no escuro do meu ser, consumido pelo acto involuntário de pensar em prosa, de sentir em verso e de sonhar com a metafísica.


Tenta não pensar. Aposto em como te apareceu um pássaro a voar.

publicado por Gualter Ego às 23:40 | link do post