À filosofia e às restantes mulheres da minha vida.

A alma ainda não se queixa do cansaço em que está mergulhado o meu corpo. Porém, o sentido de desorientação favorece a rima inocente, que se esconde atrás das gotas da chuva, refrescando-me a nuca, nestas noites que, assim, são escuras e encarnadas da mesma maneira, em que só te peço para que pares de fazer sentido. Ao deitar-me, pesam-me as vidas que nunca vivi, as palavras que escreveria, se outros já não o tivessem feito, os gritos que a minha voz enraivecida rugiria, se outros já não os tivessem rugido com tamanha mestria. E todo esse peso me esmaga, com uma força divinamente insensível, que me destrói os pilares do pensamento, questionando a importância do conhecimento, reduzido, assim, tão pobre, tão fraco e tão feio, um tudo cheio de nada, ao meu insignificante ser. E, no fim, tudo o que posso fazer é deixar-me morrer; a mim, e ao nojento animal pensante que, sem culpa, nasceu para pensar, questionar, duvidar e escrever tudo numa língua presa e trocada, como aquelas em que a sua razão se perde, falando agora das curvas, dos olhares e dos cabelos.

Nada disso é de enlouquecer um homem, a não ser que seja só porque sim ou, se o álcool ou o cansaço, que me atormenta as chagas, assim o quiserem e permitirem. Afinal, porque me dói tanto o corpo, se no fim vou voltar ao pó, sem responder a, singelamente, nenhuma das questões que coloque? É saber que nada sei, e o que sei, envergonhar-me de tal maneira, face à minha ignorância. Busco o saber, mesmo sabendo que nunca o vou atingir, mas o homem é tão imperfeito e corruptível, que se pode tornar um louco através do intelecto puro.

E, subitamente, morri. Só não choro de desalento, porque os defuntos não choram.

 

 

publicado por Gualter Ego às 00:23 | link do post | comentar